"É uma grande honra para mim ser, pela quarta vez, empossado Presidente do Tribunal de Contas do Estado da Bahia. Administrar a Corte de Contas, por quatro vezes é também um privilégio, pela oportunidade única de conduzir, em momentos tão diversos, um órgão que tem como missão a fiscalização dos recursos públicos, particularmente nos dias atuais, em que a sociedade do Estado Democrático de Direito já não é a mesma de ontem e reclama uma nova postura dos seus governantes, mais ética, eficaz e eficiente, com capacidade de bem gerir o dinheiro e o patrimônio públicos, para não apenas prover a prestação dos serviços, mas elevar a sua qualidade e satisfazer as demandas e necessidades dos cidadãos.

A sociedade de hoje pertence a um mundo diferente, a um mundo globalizado, tecnológico, ligado em redes, quase instantâneo, que, enquanto transpõe a mudança de um milênio, formata uma nova cultura, em que os cidadãos se inserem participativamente na gestão e no controle do que é público, exigindo ética, transparência e resultados no emprego dos recursos públicos.

Neste último ano, em que vivenciamos fatos estarrecedores, mais do que nunca, torna-se fundamental repensar os valores éticos e a cidadania, porque o mundo já não se cala ante o incompreensível e não se conforma com as complexas imposições da ordem econômica que privilegiam poucos e sacrificam muitos. Neste momento em que as questões econômicas determinam circunstâncias de ordem política que podem gerar a desorganização social, a exemplo da Argentina, levada a uma situação dramática pelo desajuste fiscal, é que se torna ainda mais fundamental o papel dos Tribunais de Contas para a governabilidade e estabilidade institucional.

A visão desse cenário no país vizinho, nos faz refletir sobre a importância da Lei de Responsabilidade Fiscal, e da conveniência e oportuna necessidade da sua aplicação. Nesse sentido é que as Cortes de Contas aparecem como instrumentos essenciais para a fiscalização e controle dos gastos do setor público, não só com o dever de impedir a ação dos maus gestores, mas, principalmente, a de definir de maneira clara os limites para que se estabeleça o equilíbrio fiscal, uma condição imprescindível para que o Brasil avance em passos seguros, sem risco de cair no abismo econômico, político e institucional.

E é a sociedade que está inserida neste contexto globlizado que requer dos Tribunais de Contas a mesma velocidade na aculturação dos novos padrões sociais para desempenhar o seu munus de fiscalização e controle sem restrições de natureza institucional, instrumental ou técnica. Posso assegurar-lhes que o Tribunal de Contas do Estado da Bahia não só tem sabido cumprir suas obrigações constitucionais no passado e presente, como vem, também, se preparando para os desafios do futuro, levando em consideração as mudanças que acontecem neste início do Século XXI, com forte influência nas organizações governamentais. Afinal a globalização é uma realidade incontestável e tornou imperiosa a necessidade de nos adequarmos aos novos métodos e tecnologias que surgem, alcançando as mais modernas técnicas de administração.

É neste cenário, em que se emoldura uma nova página da história, em que o mundo busca reconceitualizar valores, espaços e dimensões, que reassumo a Presidência desta Casa, começando, uma vez mais, sim, porque o recomeço não deixa de ser um novo começo. E recomeçar não significa parar o que foi feito, mudar completamente os rumos ou simplesmente repetir as experiências anteriores. Ao contrário. O recomeço é um novo desafio, o desafio da retomada, o prosseguimento de uma linha evolutiva, a oportunidade de coroar todos os projetos que estão em curso.

Todo esse sentimento de recomeço culmina, ainda, com um outro, o de poder estar presidindo esta Corte de Contas no início deste novo milênio e poder vivenciar esterito de passagem com a experiência de ter sido seu Presidente, uma vez em cada uma das duas últimas décadas do século passado. Sim, porque administrar o ontem e ser reconduzido para administrar o amanhã tem um significado mais profundo, mais além da transposição do milênio, o de ter o aval dos meus ilustres Pares para fazê-lo, justamente pelo trabalho que está em curso, cuja implementação e desenvolvimento requerem, agora, uma fase de consolidação e complementação, onde lhes possa ser dada uma nova ênfase, voltada para a gestão das pessoas, porque, em primeira e última análise são as pessoas, cada uma delas, que consolidarão todo o trabalho realizado.

O biênio que se encerrou foi profícuo de realizações, pródigo de mudanças, o Tribunal se renovou. A começar pela sua composição, que passou a contar com três novos Conselheiros, ratificando a história do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, que, ao longo de sua existência se projetou como celeiro de homens públicos – e hoje também de mulheres – notáveis, que marcam, cada qual a seu tempo, a história da instituição, cujo valor e prestígio são dimensionados justamente pelas personalidades públicas que aqui se revelam. E numa significativa coincidência, a chegada dos novos Conselheiros foi concomitante com os novos rumos que se estavam traçando para as Cortes de Contas, a cujas competências e atribuições diuturnas somaram-se outras, com o surgimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, estabelecendo novas práticas de aplicação e controle dos recursos públicos, baseadas na transparência, no equilíbrio fiscal e na gestão voltada para resultados, cuja aprovação e implantação marcaram uma rápida e profunda mudança estrutural no papel dos Tribunais de Contas; o controle externo foi valorizado e os cidadãos passaram a perceber e compreender a importância desta instituição e a dimensão da responsabilidade que lhe é atribuída, para a efetividade do controle social.

De fato, nestes últimos anos, surgiu um novo Tribunal. No Plenário, renovaram-se os debates, inovaram-se os questionamentos. No exercício das funções de auditoria, modificou-se a cultura institucional, aperfeiçoou-se a metodologia e foram dados novos rumos aos trabalhos, com outras dimensões e diferentes ângulos de análise.

Quando tomei posse, em janeiro de 2000, tornei públicas as diretrizes que norteariam a gestão no biênio. Inspirado na obra de Manuel Castells, Sociedade em Rede, sabia que era imprescindível inserir rapidamente o Tribunal na era da tecnologia da informação e, se necessário fosse, mudar abruptamente os paradigmas do exercício das atividades de controle, porque a expressão da razão de ser do Tribunal de Contas não poderia ficar mais restrita aos papéis de trabalho e aos exames das contas prestadas após a realização da despesa. O Tribunal precisava estar à frente das mudanças que se estavam operando na administração pública, que começava a redesenhar os seus processos e a informatizar a execução de suas tarefas. Mas, para concretizar essa meta, o desafio residia exatamente em poder engajar os recursos humanos, promovendo uma mudança de hábitos e a criação de novas atitudes. E o corpo de servidores da Casa respondeu com pertinácia ao desafio, submetendo-se a programas de capacitação específicos, assimilando novas e diversas tecnologias e implementando qualidade ao trabalho diuturno.

Já na solenidade de posse da mesa diretora, em janeiro de 2000, este Tribunal celebrou com a Fundação Luiz Eduardo um Convênio de Cooperação Técnica, que viabilizou, ao longo destes dois anos, uma nova condição de trabalho do seu corpo técnico, através da utilização de consultorias especializadas em diversas áreas, que têm encurtado caminhos e aprimorado as ações de controle externo. Da mesma forma, o Convênio de Cooperação e Intercâmbio Científico e Tecnológico celebrado com a Fundação Getúlio Vargas tem permitido às unidades encarregadas da atividade auditorial a obtenção de informações e referências confiáveis.

Ainda, no primeiro semestre de 2000, foi criado o Comitê de Auditoria, constituindo-se, assim, o primeiro fórum legítimo de conjunção de interesses, formado por um corpo técnico interdisciplinar de assessoramento e com a competência de realizar estudos para otimizar a metodologia de auditoria, atualizar os programas de trabalho e integrar e sistematizar as atividades auditoriais através da proposição de alternativas técnicas.

E o destino seguiu conspirando favoravelmente. A nova sede, soerguida do incêndio, ficou pronta e altaneira, ostentando uma nova organização física dos ambientes de trabalho, cuja geografia – sem paredes – espelhando as modernas técnicas gerenciais, não mais reproduzia a hierarquia funcional, o que veio possibilitar uma convivência compartilhada em idéias e espaços. A mudança do antigo prédio do IAPSEB para este, totalmente reconstruído, marcou, também, uma nova fase de inovações, iniciada com a aquisição de computadores, inclusive notebooks, permitindo à totalidade dos servidores o acesso individual à informação globalizada, através da INTERNET, e o uso de novos programas para simplificar e agilizar todos os procedimentos, quer os auditoriais, quer os do cumprimento das tarefas internas, possibilitando a redução do tempo gasto com o trabalho e dos custos de infra-estrutura.

Os principais marcos desta nova fase foram os sistemas informatizados AUDIN, Prestação de Contas Eletrônica, SEGIN e ADIN, respectivamente nas áreas auditorial, processual e administrativa. Com a audácia própria da tecnologia da informação, esses sistemas abriram as portas do Tribunal para o futuro, deixando entrar a cultura do fim do papel e da transposição para o mundo magnético de toda a sorte de informação e documentação, que antes se acomodavam em volumes de processos e documentos que se empilhavam e tramitavam de uma sala para outra nos corredores do Tribunal. Isto possibilita maior segurança e controle no trâmite dos processos e coloca este órgão de fiscalização um passo à frente das providências que começam a se definir na máquina estatal, com o projeto de redesenho de processos e a transposição para a virtualidade de todo acervo documental da Administração.

O sistema AUDIN – Auditoria Informatizada, que foi customizado para o Tribunal de Contas a partir de um convênio celebrado com a DATAPREV, com interveniência do Ministério da Previdência Social, permitiu a adoção de inovações no processo auditorial, a exemplo do trabalho simultâneo de profissionais de diversas formações na realização das auditorias integradas, as quais reúnem os aspectos de regularidade e operacionais, além de possibilitar a supervisão on-line e o compartilhamento das informações entre as diversas equipes de trabalho, tendo por efeito nivelar o conhecimento e socializar as informações, problemas e soluções. Também, o AUDIN reduziu sensivelmente a quantidade de papéis, arquivos e pastas, tornando o ambiente de trabalho mais agradável e facilitando o acesso à documentação. A facilidade de comunicação com o auditado e supervisão on-line reduziram o tempo das auditorias e otimizaram os recursos humanos, materiais e financeiros empregados.

Além disso, o acesso a outros sistemas de bancos de dados da Administração Pública, como o SICOF, o SIDAT, o SIPLAN e o SRH, está viabilizando, também, as auditorias na área de sistemas corporativos, permitindo que o Tribunal de Contas possa analisar a qualidade e a confiabilidade da informação disponibilizada pelos principais sistemas de dados do Estado.

O Sistema de Prestação de Contas Eletrônica possibilitou a remessa das prestações das contas dos gestores públicos por meio magnético, na mesma concepção das declarações de imposto de renda, simplificando, em tempo, trabalho e custos, as tarefas dos jurisdicionados.

O ADIN – Administração Informatizada, trouxe para a atividade administrativa – orçamentaria, financeira, patrimonial, de pessoal e serviços auxiliares – as benesses da informática, modernizando os controles, possibilitando acesso rápido às informações gerenciais, bem como ações mais tempestivas e redução nos custos operacionais, consubstanciadas em aplicativos específicos paras as diversas áreas.

E o SEGIN – Secretaria Geral Informatizada, desenvolvido internamente com a parceria de consultores externos, CEDASC e Secretaria Geral, objetivou a integração dos outros três sistemas às tarefas internas de exame e controle processuais.

Ao lado das inovações tecnológicas, um novo enfoque para a realização das auditorias integradas, de caráter transdisciplinar, modelo canadense, que o Tribunal desenvolve, desde a década de 80, com aceitação dos organismos internacionais de financiamento, a exemplo do Banco Mundial (BIRD) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), agora aperfeiçoada com seu foco dirigido para a fiscalização de natureza operacional dos recursos públicos, sob os aspectos de economia, eficiência e eficácia, e avaliação dos resultados dos programas governamentais, atendendo ao quanto disciplinado na Constituição Federal e, hoje, reforçado com a edição da Lei Complementar 101/2000. Este tipo de auditoria passou, também, a subsidiar o exame das prestações de contas, encaminhadas anualmente pelos gestores, visando, além do exame da regularidade, a avaliação do desempenho da gestão e dos resultados dos programas governamentais.

O Tribunal passou a fazer auditorias de receitas, dando integral cumprimento aos preceitos constitucionais, que encontraram, também, na Lei de Responsabilidade Fiscal complementariedade, sobretudo quanto ao controle do desempenho da arrecadação em relação às metas previstas e ao combate à sonegação.

Também, foram iniciadas as auditorias atuariais, de fiscalização dos sistemas de previdência e assistência dos servidores do Estado, que abrangem o exame dos atos administrativos frente à legislação de contabilidade e atuária, e avalia o equilíbrio financeiro e atuarial dos Fundos específicos criados pelo Estado.

Para consolidar a metodologia básica apreendida na realização dos procedimentos auditorias, foi revisto e aprovado o Manual de Auditoria Governamental, incorporando modernos modelos e instrumentos de planejamento de auditoria, destacando-se o Marco Lógico, a Matriz de Planejamento e a Matriz de Responsabilidade, bem como instrumentos de acompanhamento das auditorias, mediante o Plano de Ação das Recomendações, a ser preenchido pelo auditado e acompanhado pela auditoria.

A área técnica foi reciclada. Uma série de novas possibilidades de formação e capacitação profissionais foram abertas aos servidores da Casa, cuja resposta restou numa certeza: uma pessoa com mais competência precisa de novas habilidades e atitudes, como saber trabalhar em grupo e ser cooperativa, usar novos programas de computador, ter capacidade de interpretar corretamente as informações, ser capaz de gerir novas situações, ter criatividade e, acima de tudo, se adaptar.

Mais de oitenta por cento dos servidores da casa foram inseridos em algum tipo de treinamento; foram disponibilizadas vagas nas mais diversas áreas de capacitação individual e funcional, desde o Projeto Alice Através do Espelho, que se constituiu num ciclo de cursos na área comportamental, empreendido por uma empresa norte-americana, passando por cursos e treinamentos de informática, chegando a alcançar cursos de pós-graduação, a nível de especialização e mestrados.

Muitos destes servidores também produziram trabalhos e teses que apresentaram e discutiram em congressos, inclusive no V SINAOP – Simpósio Nacional de Auditoria em Obras Públicas, sediado pelo Tribunal de Contas do Estado da Bahia, em novembro de 2000.

Evidentemente que todos estes avanços não poderiam prosperar se não houvesse uma significativa mudança nas estruturas técnico-administrativas. A partir da elaboração de uma Proposta de Anteprojeto de Lei – que contou com a ampla participação dos servidores da Casa - propondo uma reestruturação dos órgãos técnicos e administrativos e um novo Plano de Carreira para os seus servidores, foi promulgada, em 29 de junho de 2001, a Lei 7879. Esta Lei, que pode ser, também, considerada um dos marcos do biênio 2000-2001, trouxe profundas e significativas inovações para o órgão de controle externo.

A primeira delas se constitui na criação de dois novos órgãos. O CEICE - Centro de Treinamento e Estudos Interdisciplinares para o Controle Externo, que tem como objetivo aprimorar as atividades de treinamento e de capacitação dos servidores, além de promover atividades de pesquisa e de elaboração de estudos, visando a modernização e otimização do Tribunal. A Auditoria Interna - órgão com a incumbência de fortalecer os controles internos dos serviços técnicos e administrativos do Tribunal de Contas, institucionalizando a função de controle interno, em conformidade com as disposições da Constituição Federal, da Constituição Estadual e da Lei Complementar nº 101/2000.

Outras medidas decorrentes da Lei, como a atribuição de um novo papel aos Conselheiros Supervisores, que passaram a exercer as funções de supervisão de controle externo, acompanhando e supervisionando ativamente o processo auditorial; e a ampliação da transparência, mediante a divulgação pública, inclusive em meios eletrônicos, das decisões, relatórios de auditoria, pareceres prévios e respectivas prestações de contas, têm dado ao Tribunal de Contas uma nova feição, que, como decano, porque aqui estou há mais de vinte anos, permitem-me enxergá-lo como um novo Tribunal.

Entretanto, talvez a mais profunda das modificações introduzidas pela Lei, tenha sido a criação de uma nova forma de remuneração dos seus servidores, mais compatível com a nova política de recursos humanos da Administração Pública, com base na produtividade, decorrente da reforma do aparelho do Estado, na busca de um serviço público mais eficiente e eficaz, tendo por base uma avaliação dos resultados do trabalho individual e coletivo, com transparência dos critérios de qualidade, quantidade e custo, consubstanciada na Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998.

Ao final do biênio, e com a ajuda de consultores externos, uma comissão de servidores do Tribunal concluiu os estudos acerca da implementação da Gratificação de Produtividade – que foram aprovados pelo Plenário em caráter experimental –, e que, neste biênio que se inicia, se constituirá em instrumento de gestão de pessoas, viabilizando uma política de reconhecimento e valorização da criatividade e do trabalho individual e em equipe, para avaliação dos resultados pactuados, consubstanciados nos objetivos e metas alcançadas.

O trabalho deverá ser visto com outra ótica, considerando-se novos e fundamentais fatores que atestarão o desempenho de cada profissional, como a criatividade, o espírito de iniciativa e a produtividade. Essa nova abordagem, que permite a identificação de talentos e esforços individuais, possibilitará agregar qualidade aos trabalhos por pessoas realmente compromissadas com o interesse público e distinguí-las das demais. Entretanto, muito mais que isso, tornará possível modificar as errôneas impressões de que os servidores públicos são descolados do trabalho, improdutivos e ineficazes e demonstrar que este Tribunal presta um serviço de reconhecida qualidade, cujos resultados haverão de transpor as fronteiras internas e passarão a ser claros e transparentes para a sociedade.

Tudo isto demonstra o quanto avançamos exitosamente. Pode-se constatar que as transformações já ocorridas fizeram surgir um processo de desenvolvimento endógeno em que os principais atores – servidores e Conselheiros - desenvolveram relações de cooperação que os tornam solidários e criativos no prosseguimento da construção evolutiva e na consolidação destes novos caminhos, que nos fazem olhar para a frente, para uma nova e decisiva etapa.

Os resultados até então atingidos são as credenciais para que esta nova fase garanta o sucesso deste novo Tribunal, no futuro. Todavia, não são suficientes; muita coisa ainda resta por fazer, especialmente no campo de gestão de pessoas. Muitos paradigmas foram quebrados e agora é a hora de superar as angústias que surgem com todas essas novidades. O plano é seguir as mesmas premissas até aqui assumidas e implementadas, constituindo uma seqüência lógica no planejamento, para culminar na decisiva capacitação e qualificação dos servidores. Com esta ênfase, será possível consolidar o processo de mudanças, para que os programas sejam executados com eficiência e produzam os resultados esperados, avançando-se com maior velocidade em direção aos novos requerimentos sociais que, dia a dia, fazem-se maiores, exigindo reformas contínuas e constantes da administração pública.

Por isto, o desafio maior é considerar o indivíduo como centro de desenvolvimento da organização, agregando componentes ao processo de gestão que o envolvam e o motivem ao engajamento prazeroso na caminhada que se estabelece na busca da melhoria e inovação continuada na prestação do serviço público. A grande aposta é justamente na revolução do papel do servidor público, passando-se a conceber o trabalho como valorizador do fator humano, fazendo com que ele próprio torne possível uma ação administrativa criativa e eficaz.

E por acreditar na verdadeira possibilidade da excelência, em todos os níveis, que possa se alcançar com um trabalho coeso, fruto da capacidade de uma equipe e da cumplicidade que pode ser nela estabelecida, com especial ênfase nos valores éticos, é que nesta gestão serão priorizados cursos e treinamentos de formação e reciclagem de auditores, gerentes, diretores e assessores, objetivando o fortalecimento de conhecimentos, habilidades e atitudes dos profissionais deste Tribunal, preparando-os para a utilização das mais modernas tecnologias e métodos de trabalho, sem prejuízo dos programas de mestrado, especialização, simpósios e cursos específicos – decorrentes de convênios celebrados com a UFBA, com a UNEB, com a UCSAL com a Fundação Visconde de Cairu, com a UNIFACS, além de outras instituições.

E é com essa visão que reafirmo o compromisso com os programas de qualificação profissional dos servidores desta Casa, colaboradores importantes nesta grande empreitada de manter este Tribunal a serviço da sociedade. Funcionários valorizados, conscientes do seu papel e da importância do seu trabalho, cientes da sua missão, constituem agentes de transformação deste órgão de controle da administração pública.

Ao lado da capacitação profissional, surge também o tempo de re-escrever as normas, para que se adequem à nova cultura e aos novos objetivos. E esta não é uma tarefa solitária dos elaboradores de leis, mas uma construção participativa e determinada de todos aqueles aos quais as leis se destinam. O Regimento Interno, os Manuais, os Guias e Regulamentos estão inseridos neste contexto de revisão.

Estes objetivos, aliados àqueles sinalizados pelo corpo funcional da Casa, de uma gestão mais participativa, requerem um planejamento estratégico dos rumos do Tribunal, seus objetivos e metas, com o comprometimento e envolvimento das pessoas dos seus servidores, que encontra no instrumento gerencial do Balanced Scorecard, a oportunidade de promover o alinhamento e a inter-relação das ações e a adequação das diretrizes às novas circunstâncias, inerentes a todo o processo de inovação.

Al Gore, ex-Vice Presidente americano, no relatório sobre o Estado da Administração Pública americana, e as opções para a sua reforma, elaborado em 1996, assim finalizou a sua introdução:

" Não temos nada a perder. O Presidente Kennedy contou um dia uma estória sobre um general francês que pediu ao seu jardineiro para plantar uma árvore. "Oh! esta árvore cresce muito devagar", disse o jardineiro. "Nem daqui a cem anos dará frutos".

"Então não há tempo a perder", replicou o general. "Plante-a hoje mesmo."

Administrar exige paciência, pertinácia, criatividade. Tendo essas qualidades como pano de fundo, fica aberto o caminho através do qual serão perseguidos os objetivos e as prioridades do tempo que se faz hoje renovado. Mas é necessário que todos se integrem em busca de um objetivo comum, maior, que, em primeira e última análise se constitui na própria existência dos Tribunais de Contas: a eficiência do controle dos recursos públicos.

Certamente que nesta caminhada farão falta pessoas que estavam aqui presentes há dois anos atrás, cuja perda nunca será esquecida e cuja falta nunca será suprida. Refiro-me, particularmente, ao saudoso Conselheiro Eliel Martins, colega de turma e amigo, que tanto pontificou nesta casa em prol da norma jurídica e dos Princípios do Interesse Público e da Legalidade, e do querido auditor Carlos Vasconcelos Domingues, colaborador entusiasta na busca de uma administração moderna e eficiente, o que nos identificou ao longo dos anos de convivência na Administração Pública Estadual e tornou-nos grandes amigos, que, com a prodigalidade intelectual que caracteriza os seres especiais, deixou-nos de presente um estudo inédito relativo à atuação do Tribunal de Contas, O Controle Externo e os Novos Modelos de Gestão de Serviços Públicos: As Organizações Sociais – que foi publicado por este Tribunal e lançado na sessão especial em homenagem ao Dia dos Tribunais de Contas, em 07 de novembro de 2000. Vasconcelos, em reflexões que registrou em documento intitulado "Do CAOS ao TAO", como sendo uma das possíveis respostas às inquietações manifestadas pelas lideranças do corpo funcional do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, ainda em 2000, já anteviu muitos dos anseios da Casa, que emergiram no V Encontro Técnico, realizado em dezembro passado, sob a competente coordenação do eminente Conselheiro Manoel Castro, hoje Vice-Presidente.

E assim começo eu, hoje e aqui, esta nova trajetória. Sim, porque, como afirmei inicialmente, todo re-começo é verdadeiramente um novo começo. Sei que conto com o aval dos meus ilustres Pares, que me reconduziram à Presidência e, juntos, continuaremos a fazer deste, um Tribunal verdadeiramente novo, o Tribunal dos nossos sonhos, inserido no contexto desta nova sociedade, mais ética e cidadã.

Aliás, as generosas palavras da eminente Conselheira Ridalva Figueiredo, que tão cordialmente nos saudou, e às quais agradeço sensibilizado, em meu nome e em nome dos meus ilustres pares hoje empossados, denotam que estamos todos engajados, num mesmo processo construtivo, com disposição para o trabalho e receptivos a todo este novo tempo.

Também, não poderia deixar de registrar o estímulo que venho recebendo, ao longo da minha vida pública, do eminente político e estadista Antônio Carlos Magalhães, administrador notável, de personalidade de carisma arrebatador, fulgurosa inteligência e indiscutível dinamismo, de quem a Bahia e o Brasil ainda muito esperam, e agradecer a presença do empreendedor Governador do Estado, Dr. César Borges, vocação bem sucedida de político e administrador, exemplos que sempre ensinam novas trajetórias a serem seguidas.

Peço a Deus que ilumine esta minha caminhada e me dê a sabedoria necessária para escolher e a coragem para prosseguir no melhor dos caminhos, e que este caminho traga, para todos nós, apenas os melhores frutos. E talvez já como fruto desta fé, casualmente encontrei nas palavras de Johann Wolfgang Goethe, o grande poeta e cientista alemão, a síntese desta minha pretensão:

"Em relação a todos os atos de iniciativa e de criação, existe uma verdade fundamental, cujo desconhecimento mata inúmeras idéias e planos esplêndidos: a de que, no momento em que nós nos comprometemos definitivamente, a Providência move-se também. Toda a espécie de coisas ocorrem para ajudar-nos, que, de outro modo, não teriam ocorrido. Toda uma corrente de acontecimentos brota da decisão, fazendo surgir, a nosso favor, toda sorte de incidentes, encontros e assistência material com que nenhum homem sonharia que pudessem vir ao seu encontro. O que quer que você possa fazer, ou sonha que o possa, faça-o! Coragem contém grandiosidade, poder e magia.

Comece-o agora!"

Muito Obrigado."

Conselheiro Adhemar Martins Bento Gomes
Presidente do Tribunal de Contas do Estado da Bahia
08 de janeiro de 2002.