2020 06 artigoClaudiaColavolpeSabemos que, com as mudanças dos tempos atuais, não é possível gerar aglomerações, fazer festas, ir a shows, entre outras ações tipicamente humanas. Muitas, não de forma irresponsável, são as restrições estabelecidas, uma vez que cientificamente comprovadas. Afinal, é a vida o que deve sempre imperar e, por mais sacrificante que possa ser para nós, temos que valorizar o que de fato importa.

No entanto, apesar de tudo o que estamos vivendo e de tudo pelo que estamos passando, o tempo continua seguindo o seu curso, e fatos significativos continuam ocorrendo, como, por exemplo, os aniversários. Como celebrar essas datas tão importantes, mantendo a devida distância, sem, entretanto, deixá-las passar em branco?

Por que escrevo tudo isso, caro leitor? Logo, logo você irá entender.

Há exatos 80 anos, quando ainda nem pensava em existir, minha vida já estava traçada. Em 8 de junho de 1940, um sábado, nascia o meu pai, Carlos Colavolpe Filho. E por que não dizer que, como bom baiano, estreava? Afinal, a veia artística é forte e divinamente lapidada ao longo dos anos.

Não sei como foi o tempo naquela data, se o dia foi de sol ou de chuva, mas sei que a boa notícia trazida iluminou, e muito, a vida daqueles que tanto ansiavam por sua chegada, especialmente a dos meus avós, Annunciata e Carlos, e a da minha tia Sonia, sua irmã, cúmplice e confidente de toda uma vida.

Cláudio e eu, seus filhos, e Clara e Felipe, minha sobrinha e meu filho, seus netos, pensávamos em uma festa linda, regada a muita música, com muito samba que ele adora. Mas, infelizmente, como comentei, o momento não se faz propício para tanto.

Por ora, festa, no sentido estrito da palavra, com muitas pessoas reunidas, não é a melhor demonstração de amor, visto que quem ama cuida. E, na pandemia em que vivemos, cuidar do outro, especialmente dos idosos, é, sem sombra de dúvida, manter a devida distância para protegê-los.

Já no sentido figurado, o de regozijo, de alegria, esta data, de fato, é e será sempre uma grande festa, mas dentro de nós. Estamos em festa por podermos celebrar a vida e a trajetória de um homem que só nos orgulha e engrandece.

Com meu pai, muito aprendi e aprendo a cada dia.

Exemplo de homem honesto, justo e caridoso, sempre procura extrair o melhor das pessoas, por piores que pareçam ser. É doce e terno, sem a elegância exigida nas regras de etiqueta estabelecidas. Isso porque sua elegância está na simplicidade e no cuidado ao tratar o outro, e, nisso, sem pestanejar, ele é imbatível.

Felizes daqueles que têm a dádiva de conviver com alguém assim: leve, doce, puro, afável e muito, mas muito divertido. Afinal, seriedade em nada combina com sisudez, e sua integridade não o impede de ter sempre uma piadinha pronta para arrancar um sorriso até dos lábios mais cerrados.

Juiz do trabalho foi a carreira escolhida, mas a composição, ao som do seu violão, a música e a poesia sempre andaram de mãos dadas, possibilitando desnudar a profunda doçura e grandiosidade de sua essência.

Por vezes atrapalhado, por vezes distraído, nunca deixa de trazer consigo o mais nobre dos sentimentos. Está sempre presente. Até nos momentos mais difíceis. E, com o seu amor, cura as feridas do corpo e da alma, aquecendo e enchendo de alegria as nossas vidas.

Assim, embora não possamos abraçá-lo como gostaríamos, muito temos a agradecer por ser ele parte de nossas vidas, conduzindo-as sempre para o caminho do bem.

E a gratidão, querido leitor, é imensamente capaz de romper barreiras. Por isso, sempre faça, independentemente da circunstância, aqueles que você ama saberem da importância que têm em sua vida. Aqui já posso enxergar meu pai lendo este escrito e, como de costume, sorrindo lindamente com os olhos. Afinal, uma palavra pode, sim, tocar o coração tanto quanto um abraço.

* Cláudia Colavolpe - Psicóloga. Auditora de Contas Públicas do Tribunal de Contas do Estado da Bahia. Escritora.
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