monica daltroliveA pandemia da Covid-19 mudou a dinâmica do mundo. Tivemos que nos adaptar às mudanças impostas pelo vírus e, para além dos efeitos econômicos, já é possível afirmar que os impactos psicológicos exigem uma atenção especial dos governos, instituições públicas, empresas e sociedade civil. Diante dos desafios que se apresentam e que colocam a saúde mental no radar das nossas prioridades, a psicóloga e psicanalista Mônica Daltro promoveu, nesta quarta-feira (10.02), uma reflexão sobre a tristeza empática durante a abertura do primeiro Ciclo de Palestras Online de 2021, que teve como tema “Modos de sentir e vivências na pandemia: entre eu e o outro”.

Durante a explanação da professora do Curso de Psicologia da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, mediado pela servidora do TCE/BA, Marta Lemos Correia D´Amorim, a palestrante fez algumas provocações: Como vocês têm se sentido na pandemia? O que tem sido mais difícil? A partir dessas questões, Mônica Daltro fez a seguinte ilação: “Uma parte da psicologia esperava que a grande dificuldade dessa vivência da pandemia tivesse a ver com a solidão e o isolamento. Eis que nos surpreendemos com as redes sociais, que mudaram a relação com a solidão e o isolamento. Aprendemos muitas vivências de presença a partir da internet. O maior sofrimento não tinha a ver com estar só, mas com a possibilidade de conviver. A experiência de conviver e dos modos de convivência foi absolutamente testada”.

E alertou para o comportamento de milhares de pessoas, que insistem em lotar praias, shoppings, aglomerarem-se em festas, afirmando não estarem mais aguentando o confinamento. Para ela, estamos testemunhando os efeitos de uma cultura que deixou de investir no coletivo, “guiada pelo feroz e destrutivo neoliberalismo, que, ao longo da história, estimulou o individualismo, a competitividade e a desigualdade social”.

“Estamos dividindo o mundo entre vencedores e fracassados. O filósofo coreano Byung-Chul Han chamou a situação de um exército de deprimidos. Já Freud, no texto denominado 'Mal-estar da civilização', nos ensina que, para que a civilização exista, é necessária a renúncia, há que se privar de algo para que o outro possa também existir. Fora disso, só nos resta a barbárie”, explicou a psicóloga.

A palestrante reforçou a necessidade de olhar para o outro, e que a indiferença nos adoece com destrutividade, nos rouba a alma, tira nossa liberdade, estreita nossa possibilidade civilizatória, imobiliza nossa capacidade revolucionária. “O problema do outro é o seu problema”.

Mônica Daltro lembra que muitas pessoas não podem ficar em casa porque o mercado não pode parar, a economia não aguenta. Por outro lado, tantos outros apenas não aguentam a renúncia, se afirmam ansiosos, deprimidos, incapazes de suportar as demandas do coletivo. Incapazes de usar máscaras, de deixar de ir a festas ou a um jogo de futebol, pelo outro, pela vida.

Para ela, parece estranho que alguém queira não ficar triste ou ansioso, quando a vida no coletivo e do coletivo se esvai. E questiona: “Como alguém pode achar que não deveria estar ansioso? Como não se sentir triste? E por que, em vez de indignação, vemos crescer o uso de ansiolíticos e antidepressivos, que apenas docilizam seus corpos para que possam dar uma saidinha? A tristeza mata menos que a alegria medicalizada”.

Numa análise existencial diante do atual momento, Mônica Daltro analisa o que pode ser aprendido com a tristeza nesses tempos de pandemia mundial: “Entristecer não é deprimir. Não é estar doente. Nem toda tristeza é depressão. Eu luto entristecendo. Luto com o que tenho. No meu lugar de psicanalista, no meu lugar de professora, na minha possibilidade de escrita. Precisamos da tristeza empática, precisamos renunciar ao nosso devorador narcisismo que desconsidera o lugar acolhedor do coletivo. Estamos desafiados a sofrer e aprender a sublimar. A tristeza, nos ensinam os poetas, é senhora. Por isso, manifesto-me por uma tristeza empática pela gentileza de ancorar distintas e plurais dores”, concluiu.

Com um total de 138 inscritos, o evento, transmitido em tempo real e por videoconferência no canal Youtube do TCE/BA, teve 368 reproduções e 111 picos simultâneos.

Confira aqui a íntegra da palestra online.